Quando você pensa em sustentabilidade, o que vem primeiro em sua mente? Apenas o ambiental? Quero incentivar o olhar sistêmico para esse termo. Para ser considerada sustentabilidade, deve-se considerar que a sua base está no ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável. É necessário existir um equilíbrio entre esses conceitos.
Como esta temática vem sendo compreendida e desenvolvida em seu empreendimento varejista? Sabia que para além de diminuição dos impactos socioambientais, estruturar e comunicar a sustentabilidade para os stakeholders colabora com a melhora da percepção da sua marca por eles? Isso pode proporcionar economias, além de ser um importante diferencial competitivo.
Diante da crescente quantidade de eventos climáticos extremos que vem acontecendo, torna-se urgente reconhecer e agir considerando que os recursos naturais são finitos e que precisamos realinhar nossas práticas com os ciclos naturais e respeitá-los. A adoção de iniciativas sustentáveis torna-se uma necessidade imperativa para todos. As empresas do setor do varejo, independente de seu porte e/ou faturamento, compartilham a responsabilidade e oportunidade de mudar o rumo dos acontecimentos.
Ser um dos setores mais influentes da economia faz com que o varejo possua um papel fundamental na construção de uma sociedade sustentável. Tanto no que diz respeito ao desenvolvimento de práticas internas, como no incentivo e abertura de espaços de ação para que seus colaboradores e clientes engajem-se na temá - tica, pois conecta o consumidor final com produtos e/ou serviços.
Iniciativas sustentáveis para a redução de desperdícios
Os aumentos nos custos causados pela crise climática pressionam ainda mais necessidade de ações práticas. É aqui que entra o exercício de enxergar os gargalos sob as lentes dos Rs da Sustentabilidade.
Necessito primeiramente repensar minha operação. Onde está o desperdício do meu negócio? O que con - sigo Reduzir? O que posso Reaproveitar? O que consigo Reciclar? Reintegrar? Como colaboro para Regenerar?
A busca e implementação das soluções precisa ser realizada por todos os setores e não apenas pelo que cuida do meio ambiente. Essa deve possuir metas claras, acompanhamento dos resultados, alinhamento com a estratégia empresarial e mensurações também considerando o retorno do investimento – tudo isso é Governança.
Temos a missão de parar qualquer fala ou pensamento de que ser sustentável custa caro. Isso é limitante e trava o desenvolvimento. Antes de tratar como uma afirmação, vamos perguntar: Caro com base em quê? Com certeza existe algo que pode ser realizado dentro do orçamento disponível. Temos custos quando temos desperdícios. Soluções nos proporcionam investimentos. Para sempre lembrar.
Destaco aqui algumas atividades que o Varejo pode fazer para ajudar a reduzir desperdícios:
- Tecnologia para gerenciar os estoques com mais eficiência, que considere a data de validade como um dos critérios para alertas.
- Automação para controle das temperaturas nos freezers e geladeiras
- Controle das temperaturas nos estoques
- Transporte com segurança para evitar quedas e quebras
- Venda de mercadorias com data de validade próxima com preços mais baixos
- Doação para instituições dos alimentos próximos ao vencimento
- Fortalecer relacionamento com os fornecedores para redução na quantidade de materiais nas embalagens e a utilização de materiais recicláveis e/ou compostáveis para confeccioná-las, bem como a possibilidade de logística reversa dos itens vencidos.
- Campanhas de consumo consciente para seus clientes e colaboradores
Segundo dados do Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em março de 2024,mais de 1/3 (mais de 1 bilhão de refeições por dia) de todo alimento que foi produzido no mundo foi parar longe do seu destino e ainda causando muito impacto negativo. O desperdício de alimentos não é um gargalo apenas do varejo, mas impacta bastante o setor.
De acordo com pesquisa realizada pela da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) junto com o Instituto Nielsen IQ, o desperdício alimentos bons para o consumo passou e muito de 7,6 bilhões de reais somente em 2022, pois não entrou no cálculo, entre outros o valor de pessoal, custo logístico.
Você tem em mente e em relatório o quanto o faturamento do seu empreendimento pode ser melhorado com a diminuição dos desperdícios?
RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO QUE ESTÁ MOVIMENTANDO NO MERCADO
Precisamos parar de pagar para enterrar dinheiro. É isso o que fazemos quando colocamos tudo o que geramos e que não nos serve mais dentro de sacos e/ou caçambas e enviamos para lixões (que ainda é uma realidade de vários estados brasileiros) ou aterros sanitários.
Para mudar essa prática, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituiu alguns princípios como a Responsabilidade Compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Ela envolve todos os participantes do processo de um produto (independente de seu porte ou de quanto faturam), desde a sua produção até o seu descarte com a missão de valorizar o resíduo e transformá-lo em recurso em novo ciclo produtivo.
Para isso, quem coloca embalagem no mercado com seus produtos tem a missão de criar mecanismos para fazer com que um percentual mínimo do peso e tipo de material utilizado volte para o ciclo produtivo através da Logística Reversa das em - balagens pós consumo. O não atendimento pode gerar multa considerando o princípio do poluidor pagador e também visibilidade negativa da marca.
EMBALAGENS SUSTENTÁVEIS
Tudo o que sobra é um erro de design. As embalagens não devem perder a sua função após serem esvaziadas, elas devem retornar ao ciclo produtivo, quer seja como transporte para o mesmo produto (como as garrafas reutilizáveis em bebidas), ou para o ciclo de alimento com as embalagens compostáveis que vão se transformar em adubo e energia para novos cultivos, ou para novos serem transformadas em novas embalagens na indústria da reciclagem.
Não se engane, nem tudo o que tem o símbolo da reciclagem (o triângulo de setas) impresso será de fato reciclado pela indústria. É necessário que o desenvolvimento das embalagens acompanhe a velocidade da existência de tecnologias para reciclagem. Muitas vezes não é isso o que acontece. O baixo percentual de reciclagem de resíduos pelo Brasil (4%) e a quantidade de material que chega anualmente nos aterros sanitários, + de 77 milhões de toneladas de materiais só em 2023, segundo a ABREMA – Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente, é a prova de que é necessário olhar com bastante atenção para as embalagens e o fim que elas terão quando não forem mais úteis.
Ao adotar medidas que tem como objetivo a redução do desperdício, com consequente diminuição na geração de “lixo”, além do estímulo para utilização de embalagens que promovam o consumo consciente, os empreendimentos do varejo podem perceber melhoria em seu faturamento, na imagem que a marca é per - cebida, fidelização dos clientes, diferencial competitivo, atração de talentos e impacto socioambiental positivo.
Ter o acompanhamento de um profissional especialista colabora com a constância e a estruturação que a temática necessita.
SUSANNE BATISTA GALENO Bióloga – Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável – Diretora Executiva da Ecoe Soluções Sustentáveis. susanne@ ecoesustentabilidade. eco.br
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